João Neutzling Jr.

Por quem os sinos dobram?

João Neutzling Jr.
Economista, bacharel em Direito, mestre em Educação, auditor estadual, professor e pesquisador
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A Guerra Civil Espanhola (1936-1939) foi um conflito armado, na primeira metade do século 20, onde de um lado estavam os republicanos (incluindo comunistas, anarquistas e uma legião de estrangeiros simpatizantes) e do outro lado os nacionalistas (monarquistas, católicos, conservadores, etc.) liderados por Francisco Franco. A guerra teve cores de uma guerra religiosa com conotação de luta de classes (classe operária x patronal).

As forças republicanas receberam apoio do México e União Soviética enquanto Franco foi apoiado pela Itália e Alemanha. Ocorreram atrocidades por ambas as partes do conflito. No lamentável combate Matanzas de Paracuellos cerca de três mil presos (algumas fontes afirmam ser cinco mil) partidários dos nacionalistas foram fuzilados sumariamente.

Ao final, meio milhão de pessoas haviam morrido e dezenas de milhares feridos, entre os mortos o poeta e dramaturgo Frederico G. Lorca. Nesta guerra ocorreu o triste bombardeio da cidade de Guernica, localizada no país basco, onde morreram mais de 1,5 mil vítimas. O ataque foi efetuado pela ultra poderosa legião Condor da Alemanha nazista. Tal evento levou o pintor espanhol Picasso a pintar o famoso mural Guernica. A Guerra Civil Espanhola parecia um balão de ensaio do que ia ocorrer na Europa depois de 1939.

Com a vitória dos nacionalistas, o general Francisco Franco tornou-se ditador do país até sua morte em 1975, perseguindo de forma implacável todos os comunistas e simpatizantes. Novos massacres ocorreram bem longe dos holofotes da imprensa. Este cenário triste levou o jovem jornalista americano Ernest Hemingway (1899-1961), então com 37 anos, a escrever a obra Por quem os sinos dobram (1940). A obra faz uma análise da fragilidade humana que se torna ainda mais tênue em momentos de guerra onde irmãos lutam entre si por ideais que nem sempre são justos. Pela obra, ganhou o famoso prêmio Pulitzer em 1953 e o prêmio Nobel de Literatura em 1954. A obra também foi classificada pelo jornal Le Monde entre os cem maiores livros do século 20.

Hemingway já havia publicado em 1926 O sol também se levanta (The sun also rises), onde retrata a vida boêmia em Paris pós-Primeira Guerra, abordando temas como solidão, amor e morte. Em As neves do Kilimanjaro (1938), narra a saga de um escritor próximo da morte. O livro virou filme em 1952 com Gregory Peck no papel principal. Em O velho e o mar (1952) relata a luta de um pescador idoso que consegue capturar um enorme marlim e enfatiza na obra a insignificância humana face à natureza. O livro virou filme em 1958 com atuação de Spencer Tracy.

Hemingway foi um escritor talentoso cujo conjunto da obra até hoje encanta e atrai leitores. A expressão "dobrar os sinos" significa que os sinos badalam, ou dobram, quando morre alguém. O título da obra Por quem os sinos dobram é inspirado na obra do poeta inglês John Done (1572-1963), que escreveu: "Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; (...) a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por você".

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